Fuçando e apagando e-mails para organizar coisas para o próximo texto (que talvez se torne uma série paga) achei um e-mail da FLIP, dizendo que um poema meu tinha passado na Antologia deles e que o primeiro colocado na feira iria ter a viagem bancada para Paraty.
Nunca fui na feira, só ouço falar e leio os relatos por aqui e em outras notícias. Sei que seria uma grande oportunidade e, apesar de não ter colocado muita fé em mim no envio, recebi uma positiva e só acabei não indo porque não pude pagar. Fiquei me perguntando quantas oportunidades de ser visto a gente não perde quando não pode.
“Quem é visto não é lembrado”, mas às vezes é bom ser visto também. Adoraria ter ido passear por lá, encontrar gente com quem falo por aqui, ver de perto quem leio. Não estou dizendo que eu seria a primeira colocada, mas também levo isso como um lembrete de que eu até conquisto e consigo algumas coisas (nem lembrava dessa), só esquece ou apaga por culpa do meio.
fora de hora
Me perguntei quantas vezes me soou como se eu fosse a última a chegar num tema. Sempre que começava um blog, um Medium, resenhas, um Book Instagram todas essas modas já tinham passado. Antes da pandemia todo mundo postava desenhos no feed do Insta. Criei um perfil pra postar os meus durante a pandemia, numa tentativa de estar menos isolada ao desenhar e ter os desenhos vistos por outras pessoas. Acabei largando, me pressionava a fazer daquilo algo profissional e que exigia muita responsabilidade, uma demanda que eu não podia dar a algo que era um hobby.
O mesmo para tema de livros, quando quis começar a escrever contos, participei de uma enxurrada de antologias, mas descobri tarde demais que essa moda já passou e em “nada ajuda o networking do escritor independente no Brasil”. Quando comecei a escrever meu batizado “Vem Aí”, estava em alta livros sobre adolescentes e tramas problemáticas do cotidiano, sem higienismo. Terminei o livro “oficialmente” (entre aspas porque acredito que um livro, para o autor, nunca está verdadeiramente pronto, sempre colocaremos defeito) esse ano e ainda nem consegui ir atrás dos trâmites de envio para editoras. Para piorar, ninguém mais quer essas tramas. E nem adianta dizer que isso não importa, porque “o que importa é escrever”, porque importa. Queremos ser lidos, de preferência, com o selo da nossa editora amada na capa, sem que a gente tenha que vender o braço pra se publicar independente na Amazon ou algo assim.
Tive ideia de uma trilogia de fantasia, sem esses títulos enormes de “Trono de Cinzas & Lama” e “Feéricos do Rei & da Rainha do Sol” genéricos, mas não tenho tido tempo de planejar a estrutura, quem dirá escrevê-la, junto das milhares de outras ideias. Acaba que quando eu começar a escrever, essa moda que vem desde o ano passado com alta fantasia vai ter passado. Fico me perguntando se me falta vontade ou estrutura para acompanhar o mercado da mesma maneira que minhas vontades.
Se respeitar é sempre muito difícil, cada um tem um processo. Escrevo rápido e escrevo muito quando paro pra escrever, o que não é sempre. Além de graduanda, escritora, dona da news, amiga, namorada, filha e leitora…Sou mulher, o que significa que minhas demandas, assim como as de outras mulheres, são muito mais pesadas, embrutecidas pelo dever do gênero: casa, cuidado, afeto.
O que significa que quando tenho tempo, cabeça, força pra fazer tudo, ainda passo pelo filtro do gênero (mulheres são maioria como leitoras e autoras, mas não são queridas pela Crítica, Mercado ou Academia), pela qualidade, porque ter tempo e cabeça não significa que tenho talento ou ficará bom e o pior, pela idade:
Não levei a mal o tweet, na verdade adoro o perfil. Mas é nítido que está certo na mesma medida que dói. Quem é jovem tem tempo (supostamente), mas não tem recursos nem talento. Quem é maduro supostamente tem recursos, pode adquirir talento, mas não tem tempo. Num futuro eu poderia ter os 240 reais que ano passado me fariam falta para a inscrição da FLIP, mas poderia não ter sido nem selecionada. Num futuro mais adiante, talvez nem forças ou vontade teria de escrever. Os meios sociais, abstratos, materiais não parecem conversar.
Tudo que escrevo é realmente uma porcaria porque sou nova, porque sou mulher, porque estou atrasada em relação aos outros ou é um conjunto disso tudo que nos afeta enquanto autores independentes? Sendo nova, eu não poderia dar a chance de ser vista, nem que pela coisa ruim?
Tem gente que diz que a Clarice era uma autora maravilhosa, mas escreveu muita porcaria. O mesmo para o primeiro livro de poesia de Mário de Andrade ou a fase romantista/poética do Machado. Tem gente que diz que vai morrer com todos os manuscritos guardados na gaveta, por vergonha de ser lido, por supostamente ter escrito coisas ruins. Já tem gente que se diz escritor da noite pro dia ganha editorial com álbum de fotos e um clube do livro! Sem atacar ninguém, mas nosso pior não será o melhor de quem só quer dinheiro…
Sem ataques, só acho engraçado que... ↑
Enfim
Quero ser lembrada, nem que seja por ter errado nova, por ter lançado algo que não foi tendência, para conquistar meu lugar no ombro…No cotovelo…No joelho dos gigantes. Tanta coisa ruim escrita por gente mais velha e eu, nova, só posso publicar acertando?
Um texto pessoalizado demais, mais uma coisa que virou atraso, ninguém quer ler mais sobre a vida do outro, só falar de si mesmo. Quem chegou até aqui, chegou meio atrasado.
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retorno sem fim
Com o anúncio de Vingadores 5 e Shrek 5 (pra 2026!), não posso deixar de me repetir: a nostalgia é um veneno que não nos mata, nos retrocede. “A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo”, já dizia Quintana.
meio mal entendido
Atualização: 19/07
Talvez não me fiz entender e, é uma falha minha (e da minha escrita) unicamente. Esse texto é para culpar o capitalismo, sociedade ou o que quer que seja pela falta de acesso e que a permissão para escrever o que quer não basta.
Não sou uma pessoa de positividades criativas; arte faz respirar, mas não alimenta e ninguém quer vender vela quando a lâmpada acabou de chegar. Não acredito também que devemos fazer apenas e pelo prazer do dinheiro como uns e outros. Dinheiro é sujo e sempre será. Dito isso, tentarei escrever o que quero, o que sinto no meu coração, mas me falta forma sim, maturidade e principalmente estabilidade e oportunidade. Essas coisas, nenhuma arte dá.
Um beijo meio tristonho.
Poucas coisas atrapalham mais a escrita do que escrever pensando em publicar, em tentar “acertar” uma tendência. Quer escrever fantasia? Vai fundo! Não tem como saber qual vai ser a “onda” do momento quando uma história sair. É assustador e maravilhoso como uma história, uma vez no mundo, chega a caminhos que nem imaginamos. Mas pra isso temos que escrever, né? ;) Acredita na sua história! Como já diria o grande Chorão: “tem que esperar sua vez, tem que saber chegar… não deixe o mar te engolir”. Acho que é sobre surfe, mas eu sempre levo pro campo da escrita 😅 Beijão
não acho que exista uma idade certa para escrever uma boa história, embora a maturidade e a experiência contribuam para que um autor escreva melhor. o importante, eu acho, é escrever aquilo que te dá prazer, que te empolga, sem pensar muito no que o mercado quer. curta o processo da criação. depois de pronto, aí sim dá para pensar em se e como publicar.