20 ou 24 coisas que recomendo
O vigésimo texto é lista. E é gosto, pessoal (recomendações da minha cabeça que não fez metade do que queria)
O mês de Julho começou e com isso veem a noção de que 2024 está na metade. Passando rápido. Vi um tweet que dizia que deveríamos ter uma festa coletiva em julho que fosse que nem o Ano Novo, para marcar a passagem do meio do ano para o resto dele e trazer a noção de tempo pra todos. Seria legal, porque muitas vezes a gente fica refém da passagem de tempo.
Nas últimas semanas, bem cansativas pelo fim de semestre e por avistar umas semaninhas de “férias” da faculdade à frente sem poder fazer nada pra que chegasse mais rápido, ouvi muita gente reclamando de como o tempo estava demorando pra passar, mas o ano estava passando rápido.
Eu mesma tentei definir de uma maneira: 2024 está passando de maneira MUITO cansativa, mas muito veloz. É como se todos estivéssemos correndo uma maratona sem sair do lugar. Já estamos exaustos, tanta coisa aconteceu no Brasil e no mundo e ficamos procurando fugas em check-lists de lazer. Com isso, separei umas 20 (ou 24, não me decidi) coisas que gosto que podem fazer o resto do ano ser menos cansativo — ou apenas suportável, se preferirem.
São todas de cunho muito pessoal e de diferentes áreas da vida, mas podem, de alguma forma, ser um ponto de encontro casual na sua vida, algo que você não procurava e não vai se tornar uma obrigação. Como esse texto, mesmo. Se quiser, pode pular para o próximo.
Ouça música, de preferência, as que estão fora da lista de SertaFunk Hits Spotify. Recomendo escutarem o álbum Paisagem, da banda experimental com afrofuturismo, Tuyo. Fui no show deles e é uma viagem astral que te faz flutuar nesse mundo pesado. É bom ver esses meninos fazendo sucesso para além das músicas tristes:
Tente ler algo fora da sua meta de livros do ano, de preferência nacional. De preferência contemporâneo. De preferência independente. Temos escritores aos montes lançando coisas com dinheiro suado do próprio bolso, só querendo uma chance. Recomendo:
ONEIFORAGIA, da Nina O’Neil — Passei dias pensando nesse conto curtinho e querendo mais, falando sobre vingança, sobre medo, sobre sonhos e permanência.
Morte Vetada, de MJ Luna —— Que merece continuação ou um romance propriamente dito, trazendo o vampiresco para um Brasil oligárquico da agropecuária.
Beleza Monstruosa, de Adrielli Almeida — Esse eu me emocionei lendo, desejando que tudo desse certo para a Clarice. Um realismo fantástico à brasileira com toques de matrix.
Dê uma chance para temas importantes. Olhar demais para eles nos faz sofrer, evitá-los nos faz se alienar. Nesse caso, olhemos um pouco. Que a gente possa debater sobre o que dói hoje e agora:
Queria morrer, mas no céu não tem tteokbokki, da Baek Sehee um livro que fala sobre o processo terapêutico de maneira tão circular, repetitiva e individual que passa a ser a experiência social de todos nós em busca da cura no que soa normal, mas fora do ajuste esperado, das conquistas e felicidades. É um livro que me ensinou muito e quero muito voltar a reler algumas páginas e ensinamentos. Também já falei dele aqui.
O acontecimento, de Annie Ernaux, meu namorado leu pra disciplina de narrativa francesa na faculdade e me recomendou. Não achei que ia gostar tanto — e nem ele — por sabermos como caem no ostracismo 90% dos ganhadores de Nobel no mundo. Mas Annie tem algo de diferente. Sabe falar do que gosta (a escrita) maquiando isso com o sintoma social da mulher e outros temas, que, nesse caso, calhou de ser uma ferida tão vívida no Brasil em 2024: o aborto. Já quero ler mais dela, cru, seca e que tem tudo pra ser levada a sério como cânone e não só retrato de autoficção biográfica.
Coma em lugares diferentes. Se você mora em SP, não custa (na verdade custa um pouco) tentar ir visitar os lugares que eu fui e curti. Falo como alguém que tem pouco dinheiro e não gosta(va) e nem costuma sair muito, que é sempre bom tentar um lugar diferente. Pra quem ama comida como eu, no fim do ano essas lembranças são mais que apenas prato, principalmente se tiver alguém bom de papo junto com o garfo.
Na ordem das fotos: Le Petit Nicolas, Pindura Bar, Hao Sushi. Mais alguns: D’Macarons, Momo Lamén e a clássica Casa de Francisca.
Visite lugares diferentes, só por visitar. Recomendo o Centro Cultural Coreano, com a exposição “O amor está nas pequenas coisas”, uma visita a livraria Martins Fontes Paulista ou, no Bom Retiro, a Aigo Livraria. Para quem gosta de passeios ao ar livre, um piquenique improvisado na Casa das Rosas ou uma passadinha no Museu da Língua Portuguesa:
Jogue videogame. Para os super gamers amantes de cinema e tramas sci-fi, Death Stranding é realmente um jogaço. Para quem ama jogar em dupla, It Takes Two é de passar raiva, mas cada conquista é emocionante. Para gente jovem de espírito, eu me diverti muito maratonando Jurassic World Lego. Pra quem quer algo mobile, Lapse, Tacape, Machinarium e sempre vou recomendar o melhor cardgame de todos: Night Of Full Moon.
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Teste uma noite de jogos de tabuleiro. Tire o pó do jogo que eu sei que você tem em casa e se divirta. Tem UNO, War, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, Pega-Vareta, Xadrez, Mimica (e a reversa que hitou na internet), Cara-a-cara, Imagem & Ação, Dama, Ludo, Forca e as milhares de possibilidades com baralho. Se quiser deixar as brigas e conversas mais engraçadas por um preço que não seja salgado, recomendo Coup. Ganhei do meu namorado e agora a família pede em todo churrasco.
Vá no cinema. Ou veja um filme. Mas assista algo, sem ser só o que os streamings acham que você vai gostar. No CineMarquise, por exemplo, de quarta-feira todo mundo paga meia!
Comece um novo hobby. Ou retome um antigo. Nessas férias vou gastar meus dias fazendo colagens, tentando retomar a escrita de ficção, da qual não tive tempo nos últimos meses e quem sabe mexer com plantas, plantar a semente de melancia que comprei faz meses. Você pode fazer qualquer coisa, colecionar vinis, crochê de bichinho de pelúcia, estátua de massinhas, montar quebra-cabeça ou passar o dia fazendo palavras cruzadas de banca de jornal. Coisas diferentes existem e estão aí.
Vá a um Show. Esses dias atrás teve o show da Marisa Monte, de graça. O que não falta é opção de show e artista por aí: Tuyo, FBC, Lagum, TernoRei, O Terno, Priscilla, Ludmilla e muitos outros. E quem sabe uma certa azedinha não vem mais pro fim do ano?
Escreva algo fora da caixinha. Essa é pra quem tem newsletter. Escreva sobre algo do qual nunca falou antes. Um tema. Ou um formato de texto diferente. Se grave falando algo que escreveria e depois escreva como falou. Escreva do ponto de vista de um animal, de um objeto. Escreva em terceira pessoa. Escreva sobre um Outro, invente um narrador, um tema, um problema, uma notícia.
Encontre seus amigos. Pode ser em algum dos lugares do tópico 10, 8, 4 ou 5. Ou vocês podem fazer algo tipo o tópico 7 na casa de um de vocês. Mas se lembrem que o tempo está passando, vocês podem ser ocupados, cansados, mas todo mundo está. Se encontrar é manutenção de afeto, mas também é resistência. Ter relações no mundo de hoje é político e, acima disso tudo, é maravilhoso.
Use a internet pra se divertir. Assista vídeos pra dar risada de nervoso, vergonha alheia, barriga doer até cansar. Ou seja, se afaste das polêmicas, das opiniões exageradas, das pessoas ensimesmadas, dos cancelamentos e hates. Você pode só ver vídeos fofos de gente colorindo um livro com canetinha ou rir da loucura non-sense de uma Patrícia no ponto de ônibus, por exemplo.
Faça bolo. Se você gosta de chocolate, testa essa receita aqui e não vai se arrepender.
Faça cursos de coisas que ama, mas cursos de verdade. A @poetvoir recomendou vários cursos de diferentes áreas em threads no Twitter, como a de literatura.
Tenha um diário. Comecei um esse ano e até falei sobre isso aqui e não me arrependi. Pode ser que não seja super literatura, muito bem elaborado, decorado ou escrito. Pode ser que seja repetitivo ou com dias que você esquece, ou que sua letra seja um garrancho, mas vai estar lá:
Faça um banho e tosa. Esse fica melhor depois de uma boa faxina na casa. Com tudo limpinho e cheiroso, demore no banho quente. Se dê direito a skincare, esfoliação, hidratação de cabelo e pele, hidratante corporal, cremes, sabonetes de rosto, depilação e lixar os pés, uma bacia enorme pra salmoura. Com música. Penteie, cantarole, enrole. Coloque um pijama quentinho e o resto é história.
Dance sozinho em casa. Ou em grupo em algum lugar. Eu sempre disse que odeio dançar, mas meu segredo é que eu danço se estiver sozinha em casa. Absolutamente sozinha e totalmente maluca, sem nenhum passo ou estilo de dança própria, apenas se mexer pra tirar o máximo de energia possível de mim, sem ter vergonha de etiqueta social. Recomendo que façam o mesmo.
Desligue o celular por um final de semana. Fiz isso, já que mal parei em casa e nunca tinha não sentido tanta falta de algo. Não faz diferença. Gostaria que as pessoas se lembrassem ou pudessem se lembrar disso com mais frequência.
Não faça nada. Não faça nada dessa lista, apenas relaxe em casa, aproveite a possibilidade, a vitória de poder escolher NÃO fazer nenhum dessas coisas ou outras ativamente. Você pode só existir, deitado na grama tomando Sol, na cama de preguiça, no sofá sem escutar celular… Existir também é bom pra caralho e, apesar de não ser invencível contra o tempo, é poderoso.
Faça SUA própria lista. Porque apesar de não devermos ser reféns de check-lists de tarefas do trabalho, faculdade e da limpeza da casa, podemos escolher quais são nossas prioridades pro que sobra desse ano. A minha é tentar viver naquilo que acho que é vida, que dá significado, todas essas sempre acompanhada de amigos, amores ou de mim mesma (companhia difícil, mas maravilhosa). Nem deu 24, mas tem é MUITA coisa e ainda falta. Vida é gosto, pessoal.
sempre que posso, faço alguns dos itens dessa lista: comer bem, ver filme, ler novos autores nacionais, encontrar amigos, tirar um tempo para não fazer nada… a gente precisa cuidar melhor da gente mesmo. só assim se sobrevive dos atropelos da vida.