Comecei um diário, não vou publicar nada dele aqui ou falar sobre o que falo, apesar de achar que ele tem um público já que escrevo sempre parecendo que alguém vai ler, mas acho que é pra mim.
É uma voz apartada desse mundo virtual, esse mundo que fala com paredes, ouvidos, espelhos. É uma voz que é espelho d'água, exercício de rotina, comprometimento neoliberal de utilitarismo ou quem sabe um pouco de atravessamento de mim, trabalhar o tal do autoconhecimento que tanto evito.
Me evito.
Evito me ler, reler, me olhar por muito tempo. Não tenho essa afasia de ficar se encarando com o ego narcísico. Nunca gostei, talvez devesse. Meu traço é pequeno e garranchudo, na pouca verdade da muita ficção que escrevo.
Vai ficar guardado pra mim. Na bolsa, no criado-mudo. Na mesa. Sem cadeado. Com uma caneta falha. De uma frase até três páginas por dia. Não de fluxo de consciência narrativo, nada fictício, só a voz despejante de um eu que nunca fala nada porque não entende o que sente pra si.
Vou me obrigar a reler e apertar os olhos pra entender o que quis dizer em alguma palavra escrita de maneira feia. Não sei pra quê tanta pressa em escrever, mas acho que é porque o pensamento corre rápido. Também não penso em alma quando escrevo. Penso nas palavras que estou tintando na folha e as folhas riscadas definem o que será "falado" na voz da cabeça simultaneamente. Não tem reflexão, não tem vazio. Tem muita informação.
Guardada pra mim, um caderninho xumbrega, o primeiro de muitos, de nenhuma memória semelhante e iconográfica de memória, só dia e cansaço em palavra. Dia e cansaço, dia e reflexão. Dor, amor. Coisas que não sinto enquanto escrevo, bem apática, vazia, quase sociopata.
Não sei se se esse exercício semântico vai me ajudar a me conhecer mais. Mas vai ter que ficar guardado. Também quero testar escrever como se eu fosse um Outro, esse que tanto tem um lugar especial no lugar do meu eu. O resto eu não sei. Não fiz ainda. Não conto mais. O que quiserem saber, abram a folha e escrevam vocês mesmos os seus dicionários de vida amontoados.
também tenho um diário que no momento está abandonado, seu texto me deixou com vontade de, quem sabe, recomeçar a escrever nele
eu sempre penso em escrever um diário, mas fico com preguiça e desisto. não sei também se teria interesse em reler depois ou se ia tentar, de alguma forma, transformar a realidade em ficção.